segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Entrevista com Vítor Scaramella

Hoje quem invade o blog Vizinhos Literários é o autor do livro, "Rookie - Os bastidores da "Bella" Máfia", Vítor Scaramella. Ele nos conta um pouco sobre sua obra e fala abertamente da política brasileira.

 

(Vizinhos Literários) Conte-nos um pouco sobre o surgimento da ideia para escrever “Rookie – Os bastidores da “Bella” Máfia”.

O que despertou esse interesse, logo de início, foi a relutância do povo em crer na existência da máfia italiana no Brasil. Fui aperfeiçoando a minha técnica através de estudos e investigações próprias, até que cheguei ao ponto exato do que queria descrever. Assim sendo, depois de alguns percalços cheguei à conclusão de que explicaria tudo que aprendi durante minha formação acadêmica, só que de uma maneira mais divertida, recheada de sacadas irônicas e ação. Por sinal, dia vinte deste mês o projeto completará três anos, muito bem empregados em quatro livros. Honestamente espero que gostem da estória, pois fiz o máximo que pude para chegar ao ponto mais prazeroso possível, e assim descrever a atual situação do povo brasileiro, assim como os bastidores da alta sociedade... especialmente a carioca.



(Vizinhos Literários) Quais suas maiores influências literárias e até mesmo pessoais?

Quanto à influência literária, sem sombra de dúvidas me guio pelo mestre Mario Puzo. Li quase todas as suas obras. No entanto acho que todos os autores que lemos pela vida nos doam um pouco da sua arte, por isso não tem como elencá-los, uma vez que me perderia entre os ditos “profissionais” e “amadores”.  Sobre a influência pessoal, estamos no Brasil, então ideia é o que não falta, certo? Aqui, nós vemos Máfia de vários tipos, que vão do narcotráfico àquela mais inacreditável, referente ao desvio e roubo de material e merenda escolar. Aqui, neste belo país, onde temos o carnaval e o Maracanã, também convivemos com a morte de três prefeitos do Estado de São Paulo, friamente executados... e o pior, nada foi feito. Um exemplo clássico do que digo foi o caso do ex-prefeito Celso Daniel. Além dos vários tiros que levou, sete pessoas envolvidas na investigação foram assassinadas, e, beirando a história dos filmes mais surreais, em Agosto de 2010 a promotora responsável pela investigação sofreu um atentado em uma via expressa de São Paulo. Por sinal e infelizmente, não paramos por aqui. Acabo de ver que o pré-candidato a prefeito de Jandira, assim como o ex-prefeito, também foi executado por pistoleiros. Preciso de mais influência?

(Vizinhos Literários) Um dos temas relatados em seus textos, é a máfia. Quando se interessou pelo tema?

Desde que me entendo por gente! Sabe como é, né? Venho de família italiana, então essa curiosidade sempre figurou no meu imaginário. Me lembro de quantas noites viajei pensando em como era a vida levada pelos meus antepassados na velha bota. No entanto, o grande culpado por essa obra foi,  certamente, o próprio Puzo -  assim como o grande Copolla. Esses caras são geniais, e com uma sutileza incomum, possivelmente apoiada pelos próprios mafiosos da época, transformaram um criminoso sem escrúpulos num homem ético.  De Chefe da Família, Don Corleone foi transformado em chefe de família.

(Vizinhos Literários) Atualmente não nos é relatado de modo, pelo menos explícito, a palavra máfia no Brasil. Na composição de “Rookie – Os bastidores da “Bella” Máfia” descobriu um histórico nacional que poderia nos contar?

Antes de tudo gostaria de esclarecer que a palavra Máfia não era utilizada pelos próprios “mafiosos”. Eles preferiam a alcunha de “amigos”. Eles se referiam ao clã de maneira genérica como “amigo dos amigos” que, por sinal, é até o nome de uma facção criminosa no Rio de Janeiro. Quanto ao surgimento dessa palavra, se não me engano ela é oriunda da Sicília no século XIX, mais precisamente do termo árabe “mahyah”.
Deste modo, a palavra “mafia” (que erroneamente é associada a uma sigla) pertence a um dos inúmeros dialetos sicilianos, cujo significado é o de insolência, audácia, ousadia e atrevimento.
 Bom, voltando ao tema original da pergunta, sobre a máfia no Brasil: até poderia falar mais sobre o tema, no entanto tem uma matéria da revista Abril que é bastante interessante e pode sanar várias dúvidas. Vou deixar um trecho e logo abaixo o link completo:
“ Na década de 1950, um capo italiano foragido da polícia resolveu se esconder nas praias do Rio. E foi assim que a máfia chegou ao Brasil.  Antonino Salamone foi um dos diretores da Cosa Nostra durante as décadas de 1960 e 1970. Em 1963, depois do Massacre de Ciaculli, quando sua organização matou 7 policiais italianos em um atentado à bomba, Salamone veio se refugiar no Brasil. No Rio de Janeiro, ele se aliou a Castor de Andrade, então com 37 anos. Da aliança entre os dois, surgiria a máfia brasileira.”


(Vizinhos Literários) Seus textos trazem traços de discussões políticas. Percebemos tantos jovens se distanciando cada vez mais do expressar da opinião referente à mesma. Como o seu trabalho se apresenta diante das questões políticas nacionais e mundiais?

Como dito anteriormente, o maior objetivo do livro é trazer da maneira mais divertida possível a discussão política para dentro do dia-a-dia de cada cidadão brasileiro. Durante cinco anos, no decorrer da minha formação acadêmica, respirei o estudo da política, assim como a formação dos Estados e do sistema econômico vigente. Deste modo, como Assistente Social, me vejo na obrigação de participar, independente do canal, da emancipação do sujeito crítico. 
Sobre o livro, além de mencionar a globalização da Máfia, também considero o trabalho bem atual. Ele relata a forma como certas quadrilhas controlam algumas organizações não governamentais, e se beneficiam disso para conseguir acesso ao voto das comunidades assistidas, em pleno 2003. Uma coisa que deve ser bem especificada é que o Brasil se tornou o país da coincidência, e nas estranhas do crime organizado, até os mais leigos sabem que ela não existe.

(Vizinhos Literários) Ainda não publicou o seu trabalho, mas sei que pretende fazê-lo. O que espera do mercado editorial?

O Brasil, mesmo não sendo um país de leitores assíduos, pelo que soube tem um número de publicações bem maior que de alguns países desenvolvidos, como a própria Itália, por exemplo. Entretanto, como a oferta acaba sendo maior do que a procura, nós escritores das terras tupiniquins não podemos nos dar ao luxo de viver da própria arte (tirando Paulo Coelho, é claro...).  As oportunidades, mesmo que de maneira vagarosa, estão sendo abertas, tanto fisicamente como pela internet, através de editoras on-demand (imprimem sob demanda). Todavia a questão chave é: - Quando será que os escritores e os demais artistas brasileiros poderão viver da arte? Infelizmente não sei te responder, mas espero que seja em breve. Já estou ficando velho! 

(Vizinhos Literários) Já que falamos sobre máfia e política, gostaria que deixasse algumas palavras sobre o que aguarda para o futuro do Brasil.

Na minha modesta opinião, é difícil acreditar numa democracia na qual você é impelido a votar e se alistar nas forças armadas, certo? Mas deixando isso de lado, eu no passado enxergava um país dominado pelas trevas, quando de maneira inocente (em 2002) vi a mobilização popular trazer a conquista histórica de um presidente que aparentemente representava a massa. Nessa época, senti a chama do povo brasileiro ressurgir.

Agora em 2011, quase 2012, vejo que pouco mudou e, por um lado,acabamos enganados, pois com a mesma mão que o governo dá (diminuição da desigualdade social e aumento do IDH através de programas de transferência direta de renda), ele também tira, uma vez que em seu mandato os bancos lucraram como nunca e pequenas privatizações foram feitas sem o mínimo do conhecimento popular. Isso sem mencionar a rotineira e calamitosa situação da educação e saúde pública.
Independentemente de um REUNI ou PROUNI, onde o governo buscou apelo midiático, em momento algum ampliou devidamente o número de professores ou a própria infra-estrutura das faculdades federais. Muito pouco foi investido para que os cidadãos possam caminhar com as próprias pernas. Honestamente, não sei até que ponto as políticas públicas brasileiras não são apenas medidas populistas, que visam votos e assim assumindo uma postura crônica e continua.
Ainda que a situação seja difícil, não podemos nos deixar abater. Aos poucos, a população está se indignando e buscando seus direitos, e só dessa maneira conseguiremos mudar o rumo que as coisas estão tomando. Não é à toa que em onze meses de governo Dilma a faxina dos ministérios já levou seis ministros, sendo que cinco por denúncias de irregularidades.

Parece sonhar demais. No entanto, até a utopia se faz indispensável, uma vez que, se não buscarmos a ação no sentido racional, jamais teremos algo palpável como a mudança social, baseada num desenvolvimento que abrange desde a justiça social ao acesso ao conhecimento. 


Rookie - Os bastidores da "Bella" Máfia.


   “Oriunda da Sicília no século XIX (mais precisamente do termo árabe “mahyas”) a máfia ainda reside no imaginário comum do povo brasileiro até os dias de hoje, contudo  após  diversos filmes  e documentários seu significado permanece nebuloso e poucos realmente sabem o que ela é. Não se iluda, a máfia é apenas mais uma forma de fazer dinheiro,  também gerando poder e conseqüentemente influência política. Então lhes afirmo que o verdadeiro crime organizado é praticamente indetectável. Ele está em você, entre seus familiares e nas mais simples ações corruptas! Talvez numa doação, em meio a um assalto ou quem sabe até num saco de cimento. Meu caro, a máfia está em tudo! Realidade ou não... Se a vida já vale pouco, imagine para quem vive nesse meio onde o dinheiro só se lava com sangue...” 
          Independentemente de índole, classe social ou credo religioso essa guerra não se restringe apenas as facções em geral. Infelizmente os mortos não são criações literárias e dias após dia tombam pelas ruas do Brasil a fora. Deste modo, com a função de expor os bastidores da alta sociedade sem o glamour apresentado nos filmes de Coppola. Il Rookie constitui o retrato fiel da realidade brasileira, desmascarando como a influência do grande escalão afeta diretamente a vida de qualquer cidadão, banalizando a violência e incorporando-a ao nosso cotidiano como uma conseqüência natural. 


Encontre mais informações sobre Vítor Scaramella e sua obra:


Página oficial do livro Facebook 


Recanto das Letras

9 comentários:

  1. Eu adorei a entrevista, muito bem desenvolvida e com as respostas incríveis. Sucesso ao blog e, é claro, para o autor!

    Abração!

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  2. Incrível o blog, muito bom mesmo! Perguntas muito bem arquitetadas. E parabéns ao Vitor, sucesso para ti!, rs. =D

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  3. Não ha o que discutir, abordagem perfeita.
    "Meu caro, a máfia está em tudo! Realidade ou não... Se a vida já vale pouco, imagine para quem vive nesse meio onde o dinheiro só se lava com sangue..."

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  4. Interessante e instigante a entrevista.

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  5. Merece divulgação, um trabalho muito bem escrito e que apresenta uma análise da política de um ângulo novo e criativo!

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  6. Já tive o prazer de ler alguns trechos do trabalho do Vítor e tenho certeza que não irá demorar muito para ele despontar no mercado editorial. Com narrativa vibrante e personagens bem desenvolvidos, Rookie tem tudo para ser um grande sucesso! Parabéns ao blog pela entrevista!!

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  7. Seu trabalho é muito bom, vc sabe mesmo o que perguntar, estou gostando muito das entrevistas do seu blog, essa ficou d+!

    http://entrepaginasdelivros.blogspot.com/

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