sexta-feira, 18 de maio de 2012

Maurice vs. O Quarto de Jacob – Um paralelo entre a obra de Forster e Woolf



"Quando o amor se vai, é lembrado não como amor, mas como algo diferente."
E.M.Forster


Antes de qualquer coisa gostaria de esclarecer o porquê de estar criando um paralelo entre os mundos de Woolf e Forster. Nada posso provar sobre o conhecimento de Virginia a respeito da obra Maurice, pois esta ficou quase meio século guardada por causa do conservadorismo da sociedade na época. Entretanto focos da narrativa chamaram-me a atenção durante a leitura e apresento a vocês agora.
     
Forster começou a escrever sua obra em 1913 e a terminou em 1914, dedicando-a a um ano mais feliz. Enquanto Woolf iniciaria O Quarto de Jacob em 1920, o publicando em 27 de Outubro de 1922. Porém ambas trazem traços muito recorrentes. Em primeiro lugar devemos destacar a homossexualidade das personagens. Em Maurice o assunto é tratado de uma forma mais explícita, no romance de Maurice e Clive. Isso talvez explique o porquê do editor de Forster achar melhor não publicar a obra, fato que só veio a acontecer depois de sua morte. O autor atribui o arquivamento ao seu otimismo para com a sua personagem principal, “Maurice talvez escape.” Ao contrário percebemos a sexualidade de Jacob muito raramente em passagens da narrativa ou em observações enfatizadas por personagens secundários.
     
Entre estes existe Cambridge, símbolo de conhecimento dos ingleses da época e tanto Maurice quanto Jacob frequentam aulas no campus, criando ali muitas de suas concepções de vida. Os autores também privam seus personagens da presença paterna, possuindo em suas mães fonte de inspiração. (Ainda pretendo ler mais obras com esse assunto para avaliar se sempre a presença paterna é vista como um trauma para personagens contrariados em suas sexualidades.)
     

"Uma paixão completamente centrada em si recusa o resto do mundo tal como a água límpida e calma filtra todas as matérias estranhas." 
Virginia Woolf



Um ponto que não posso deixar de notar é a forte presença dos gregos e suas filosofias. Forster cria Clive como um admirador dos gregos e quando este viaja para a Grécia pretende ali encontrar explicações, entretanto apaixona profundamente por uma mulher, para a decepção de Maurice que vê o final do relacionamento se consolidando. Jacob também viaja para o país, contrariando o amigo Bonamy, e tem uma breve passagem com uma mulher.
     
O que difere aos autores são os destinos atribuídos às personagens. Forster acredita profundamente em Maurice e lhe dá um final feliz, deixando que talvez ele escapasse da sociedade um tanto restrita na época à homossexualidade. É preciso denotar que E.M.Forster era homossexual, uma explicação para sua personagem. Quanto a Woolf, ela escreveu o romance ao irmão que havia morrido de tifo e eles participavam das reuniões do grupo Bloomsbury, cujas relações entre membros eram muitas vezes liberais.
     
Infiro, então, que ambos os autores se libertaram das amarras para escrever romances belíssimos de serem lidos. Tanto Maurice quanto Jacob dizem que o amor acima de qualquer sentimento será mais forte que as ditaduras impostas por nossa sociedade.


     Por fim, gostaria de recomendar a todos os dois romances e aqui no blog tem resenha de ambos para quem quiser conhecer mais da história.

2 comentários:

  1. Acho que a transgressão das regras sociais está presente na literatura desde sempre, essa é uma das grandes contribuições dos grandes autores: adiantar e trazer para o debate temas proibidos. Nada melhor que uma discussão para quebrar tabus.

    ResponderExcluir
  2. Parabéns, seu texto desperta curiosidade e dá vontade de mergulhar nos livros imediatamente. Esse papel deve ser exercido por quem conhece a complexidade dos autores clássicos e consegue , através de uma linguagem acessivel, mostrar a essência das obras. Vou seguir seu escritos com muita atenção, gostei .
    Continue, Você esta prestando um grande serviço a nós e à literatura de qualidade.
    @Sulains

    ResponderExcluir