quarta-feira, 19 de março de 2014

Infinito, Indecifrável e Lindo



(O teorema de Katherine, John Green: tradução Renata Pettengill. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2013. 304 p.)


Por Mariana Cardoso

19 Katherines. Cobin Singleton não é físico, mas linguista: ele gosta de Katherines. E não de Katies, nem Kats, nem Katties, nem Cathys, nem Rynns, nem Trinas, nem Kays, nem Kates, nem – Deus o livre – Catherines. Mas, foram tantas decepções Katherianas que Colin decidiu fazer um teorema sobre cada uma delas para definir e prever o ciclo de um namoro. E confesso que a ideia é estúpida e chata.

John Green, sempre é capaz de escrever coisas que vão surpreender o leitor e prender a sua atenção, mas nas primeiras 140 páginas do livro “O Teorema de Katherine” foram insuportavelmente superficiais de intelecto. Não que ele tenha se expressado de uma maneira considerada “burra”, mas sim, monótona, chata e repetitiva. Porém, quando o autor decide mudar o foco sobre um Colin “O prodígio”, e, “Katherine 19”, todas as questões ridículas levantadas na obra se tornam lindas.

Foi decepcionante como John Green demorou tanto para ter a percepção de como seu livro estava desgastando mentalmente seu leitor e que ele só ganha intensidade quando desenvolve Lindasey Lee Wells. Hassan, também é considerado o ápice, pois, se John centralizasse somente nos pensamentos complexos do protagonista sua obra seria uma catástrofe.


O livro sem um final, acabou se tornando desafiante para o leitor, pois teremos um leque de opções para um futuro indefinido. Portanto, a menos que você passe da página 140, tenha certeza absoluta de que você se decepcionará, assim como eu me decepcionei. E, contanto que você já esteja na página 141, você amará o livro como eu amei. 

quarta-feira, 12 de março de 2014

Resenha - 100 escovadas antes de ir para cama, Melissa Panarello


(100 escovadas antes de ir para cama, Melissa Panarello: tradução Eliana Aguiar. Rio de Janeiro: Objetiva, 2010. 164 p.)


Por R.S.Merces


“Nem um gemido saiu dos meus lábios, mas dei um sorriso. Querer que ele soubesse da minha dor seria expressar os sentimentos que ele não queria conhecer. Ele quer usar o meu corpo, não quer conhecer minha luz.” pág. 28

100 escovadas antes de ir para cama, narra em forma de um diário, as experiências sexuais de uma garota de 15 anos. Melissa perde a virgindade por ocasião e seu estágio de constante conflito consigo mesma torna-a uma experiência dos sentimentos humanos tão conturbados na adolescência.

O livro nada mais é do que aquela inquietação por conhecer o mundo, principalmente dos adultos. A protagonista vive em uma casa onde os pais pouco se importam com ela, estão sempre em silêncio. A relação familiar é pouco ou nada amorosa e a garota procura no sexo com diferentes garotos uma réstia da verdade do amor.

As experiências de Melissa são todas fracassadas. Seu corpo é tratado como um mero material, às vezes até mesmo como produto de troca e negociações. Sua curiosidade sexual também é marcada pela repulsa e insegurança.

“Nós falamos, nos movemos, comemos, realizamos todas as ações que para um ser humano são obrigatórias, mas, ao contrário dos Rochedos, não estamos sempre no mesmo lugar, do mesmo modo. Nós deterioramos, diário, as guerras nos matam, os terremotos nos destroem, a lava nos engole e o amor nos trai. E nem somos imortais: mas talvez isso seja um bem, não?” pág. 32

Aos poucos vamos lendo passagens onde a autora, que afirma ter passado por todos os relatos narrados, nos dá observações sobre o humano não só na sua ainda restrita visão adolescente, mas de um ponto de vista maduro.


O livro também pode ser lido como um rompimento a todos os dogmas que cercam o país, principalmente a forte repressão religiosa da Itália da época. 

quinta-feira, 6 de março de 2014

A revoada, Gabriel García Márquez



Por Taynara Cruz


Gabriel García começa sua primeira obra publicada nos introduzindo a um suicídio, em que o cadáver de um médico é desprezado pela população de Macondo, que tenta impedir o enterro. Mas, um velho coronel, que tinha o prometido que o enterraria se dispõe a ajudar. Ele chama sua filha Isabel e seu neto, uma criança, para ajudá-lo.

O livro é narrado por estas três pessoas – o coronel, sua filha e seu neto. Gabriel García Márquez nos concede a oportunidade de vivenciar três perspectivas sobre o mesmo fato, uma vez que os três narradores, em alguns momentos, descrevem o mesmo acontecimento um após o outro, e na medida em que a história é contada, o leitor vai juntando os quebra-cabeças para entendê-la.

Em certo momento da narrativa, o médico desconhecido chega à casa do velho coronel e o pede abrigo, que lhe é concedido imediatamente. O estranho vive nesta casa durante nove anos até que a empregada da casa engravida e o pai pode ser o médico. Ele muda para outra casa e leva a empregada, mas a única pessoa que sabe da gravidez é o velho coronel. Quando a população precisa do médico por causa dos feridos da guerra, este se recusa a ajudar e é por isso que o povo de Macondo o odeia.

A obra é uma crítica à sociedade. Pelo fato de o médico não ajudar o povo, o povo não o presta condolências em sua morte e até dificulta seu enterro. Isso mostra que as atitudes do ser humano estão condicionadas às atitudes do outro.

Gabriel García desenvolve o livro aos poucos, o que força o leitor a não apenas ler, mas juntar as informações - característica que mais me chamou atenção. Neste caminho algumas lacunas não são preenchidas, algo que pode causar desconforto a algumas pessoas. Para mim, essa falta de explicação pode ter sido proposital para fazer mais uma crítica ao ser humano: Não temos que conhecer a vida do outro por completo, o que deve nos interessar é a nossa própria história.


“A revoada” confirmou em mim o desejo pelo desafio.


Acompanhem as novidades do desafio na Tag: Um autor para 2014. 

segunda-feira, 3 de março de 2014

[Comemorações literárias do dia] - 03 de março




Morte do jornalista, advogado e político Aliomar de Andrade Baleeiro, no Rio de Janeiro, RJ, em 1978.


Morte do Advogado criminalista e jornalista Pedro Aleixo, em Belo Horizonte, MG, em 1975.

domingo, 2 de março de 2014

[Umas e outras] Poema morto



Por Vinícius Mahier

I

Vejo as pessoas e elas não me veem.
Parecem-me, no entanto, alguns rebanhos:
Se lhes rogo, me afagam com gadanhos;
Se agonizam, Deus fazem-me e me creem!

Chacino-as, com os olhos! Ser celeste?
Fraca auréola, exibindo um mero status!
Calar-me por temores putrefatos?
Preservo as mágoas com que a Dor me veste!

Rancor, se não é belo, é natural!
Que humano vive o afeto o tempo todo?
Antes mostrar-me — honesto! — neste lodo
A fingir-me um demônio angelical!

De que inferno o cinismo nos surgiu?
Qual veneno traz a cura ao hediondo?
Só me resta a revolta e ao seu estrondo
Praguejo o homem fosco e sem perfil!

São as pessoas — mais canibalismo! —
Juntas à mesa, sem sabor algum.
Prossigo literário em meu jejum
Vendo-as banquete de um mútuo eufemismo!

Garantem que o infortúnio de um amigo
Não se pode amparar! Mas se recebem
Insultos, todo o fel do mundo bebem
Para o Ego vomitá-lo no inimigo!

Tiragens esgotadas de uns panfletos
De estampas proclamando um cão poeta
Que esboça a retidão como abjeta
E a roga, heroicamente, em seus sonetos!

Deus ruma à gente e vê grades nos templos
Dos vários missionários marinheiros,
Que enganam seus devotos verdadeiros,
Sagrando as próprias manchas como exemplos!

Soberbas cerimônias... — maculadas! —
No altar brilhando o corpo do interesse
Como se um terço caro algo valesse
A Deus, que permanece nas escadas!

Prefiro não rezar. Sou-lhe um herege?
Louvar apenas por temor à fúria
Divina?! É-me no mínimo uma injúria
Erguer as mãos, enquanto o chão me rege!

Meu nome berram dentro dos seus vícios,
Vários covardes, em hercúlea fama.
Se algum dia eu benzer-me nessa lama,
Hei de ser Santo... — e não serei Vinícius!

É pena este conforto ser quimera
De um peito que se esquece da agonia
Ao deitar-se no colo da poesia:
Menino em uma breve primavera!

II

Frente ao espelho, ponho-me, de novo,
E sofro a pretensão do meu agora:
Um ser que a própria vida não melhora
E espera melhorar todo este povo!

De amores breves sou... mas não por gosto!
Com o tempo, suicida a amada eterna,
Que se entrega aos delírios da taverna,
E nasce a meretriz de infame rosto!

Ao meretrício vil do dia-a-dia
Ela se enfeita... — de pudor se cobre! —,
E faz das larvas uma imagem nobre
E de si mesma a mais vulgar harpia!

Outra esposa a lealdade desaponta
Nua às curvas do amante e da lascívia.
A traição..., o marido revive-a
E, triste, às curvas da amante se apronta!

De amores santos sou... e sou de carne!
Nem por isso atraiçoo quem me ama.
É imundo quem por remissão se acama
Esperando que o céu todo lhe encarne!

Nem falo que no amor sempre há mentira!
Minha cólera é a quem o mancha e o ostenta,
Enquanto amputa a própria mão, nojenta,
Para nunca estendê-la a quem expira!

Coloco, muitas vezes, o meu pulso
Na ceifa do escapar-me a grande ideia
De como aniquilar esta plateia
Que faz do palco um circo-show insulso!

Lacera-me pensar como sequer
A infância está abrigada deste estupro:
— Se a foda ainda não posso, então a supro
Sendo, nesta orgia, um virgem voyeur!

Consterno o meu olhar, que não se queixa...
Aguarda o que reserva-lhe esta gente!
Torná-lo uma desonra sorridente?
Entrego-o ao lhano colo de uma endecha!

III

No desespero ao mais cruel enigma,
— Onde agoniza a nossa complacência?
Tombada a tiros pela Inteligência! —
Só reencontrei o assombro ao meu estigma!

Mascaram-se aos lamentos de um cortejo
Abutres foliões, num falso luto.
É o caixão — de outro Herói, subproduto... —
O abre-alas deste fúlgido festejo!

“Atiras chaga em mim?!" — protesta o solo
Embravecido com medonha cena...
"Com teus cuspes vexava-me, sem pena!,
E agora cuspe deitas no meu colo?

"Bons vermes, protetores digníssimos,
Também injustiçados pelo homem,
Que apenas pra salvarem-me o carcomem
Qual fúrias, guardiões, a mim Altíssimos".

E a humanidade segue no caminho
Que a leva ao abismo da visão mais crua
De que esporra esquecida continua,
Rala e estéril, ultrajando o próprio ninho!

Do que reclamo?! Em minha casa há raça!
E até silêncio, narrativa leve...
Mas o abrigo do meu teto, breve,
Não impede que o vão me contrafaça!

Vejo as pessoas! — não as quero em mim,
Mesmo que à vida nós iguais sejamos!
Findar-me, ao menos, longe dos seus ramos
É o que desejo, quando eu for, enfim!

Mundo patife! — que a ninguém acalma —
São nos versos que encontro algum conforto.
Fechando a tumba do poema morto,
Devolvo o fato à minha humana alma!

[Comemorações literárias do dia] - 02 de março



Nascimento do jornalista Casper Líbero, em Bragança Paulista, SP, em 1889.


Morte da escritora Maria Camila Dezonne Pacheco Fernandes, em São Paulo, SP, em 1998.