quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Uma conversa com Francine Ramos sobre Virginia Woolf




“A Virginia Woolf me impressiona, simples assim. Eu acho de extrema importância tudo o que ela escreve, desde o estilo literário ao tema de suas obras, tudo é, para mim, de pura beleza.”


Francine Ramos é uma leitora apaixonada pela obra da Virginia Woolf e se você tiver dúvida disso é só visitar o blog dela “Livro & Café”. Formada em letras, ela conversou com Odisseia e contou um pouco sobre suas experiências na obra da escritora inglesa grande nome do modernismo.


(A Odisseia...) Como você descobriu a obra de Virginia Woolf?
Acredito que faz mais de 10 anos. Eu estava no 1º ano de Ciências Contábeis e a professora de Sociologia pediu para fazermos uma pesquisa na biblioteca. Infelizmente eu não lembro em qual livro foi, mas havia uma frase lá, logo nas primeiras páginas do livro, da Virginia Woolf, até então desconhecida para mim, e eu fiquei profundamente maravilhada com a frase, lembro que era algo sobre a sociedade, desconfio que era alguma frase do livro “Profissões para mulheres e outros artigos feministas” ou “O leitor comum”. Um dia lembrarei dessa frase. Já até pensei em voltar na biblioteca e pedir os registros antigos, ver se encontro a minha ficha, para saber qual foi o livro que me salvou. Porque se leio tanto hoje, é tudo culpa da Virginia Woolf. rs

(A Odisseia...) Depois de ler o primeiro livro o que te incentivou a continuar a ler as obras da autora?
Eu comecei lendo os contos, alguns pela internet mesmo, mas lembro que fiquei maravilhada com “A marca na parede”, que está no livro Contos Completos, da editora CosacNaify. A Virginia Woolf me impressiona, simples assim. Eu acho de extrema importância tudo o que ela escreve, desde o estilo literário ao tema de suas obras, tudo é, para mim, de pura beleza. E também o aprendizado que ela me traz. Eu brinco com os meus amigos que ela é minha santa! Santa Vivi, mas só para os íntimos! rs

(A Odisseia...) Qual o seu título favorito? Por quê?
Se você me perguntasse há dois anos atrás, eu responderia Orlando, pois adoro o clima que Virginia imprimiu no livro, um ar leve, descontraído, que sempre me agradou, com uma história surpreendente. E também por fugir do estereótipo de que ela era depressiva, e triste. (Quem estuda a obra dela sabe o quanto ela era bem humorada e feliz). Mas hoje, o livro que está no meu coração é Mrs. Dalloway, pois foi um livro que demorei para entender, mas na terceira leitura, com a edição que a Editora Autêntica lançou, a história fluiu perfeitamente para mim, a tradução do Tomaz Tadeu está um primor! E por isso foi possível entender a obra. Mrs Dalloway é a história de uma mulher, apenas um dia da vida dela, mas também é a história do mundo todo; de todos os dias; de como a vida é bela, mágica e trágica.

(A Odisseia...) Você lê autores que foram influência ou influenciados por Virginia Woolf? Quais?
Eu preciso ler Shakespeare! Eu li algumas peças deles quando eu era adolescente, mas preciso reler, pois ele era o escritor que ela mais admirava, sem dúvida. Há uma frase dela assim “tenho pena dos pobres que não leem Shakespeare”. Virginia Woolf tem pena de mim, mas vou consertar isso!

(A Odisseia...) Qual a influência da Virginia Woolf na sua vida?
Total. Ela, de verdade, me fez ter coragem para mudar muitas coisas em minha vida, questões profissionais e pessoais.

(A Odisseia...) Para o leitor que pretende começar a ler Virginia Woolf, qual seria sua indicação?
Virginia Woolf é uma escritora difícil, sempre digo, mas isso não faz dela chata, tampouco careta. Eu digo difícil por experiência própria. Lembro que, assim que comecei a ler os livros dela, peguei As Ondas e, claro, não entendi bulhufas! Aquilo era demais pra mim. Eu lia, lia, voltava para primeira página, lia, lia, e voltava tudo de novo... eu achava cada frase linda, perfeita, mas minha mente não as processavam como um todo, como um romance.
Abandonei As Ondas e comecei a ler Noite e Dia, o segundo romance dela, aí sim consegui terminar e foi uma leitura deliciosa!
O que acontece é: Virginia Woolf, quando começou a escrever, estava presa aos pedidos da editora, ao molde da época do que era considerado um bom romance, ou seja, a estrutura de suas histórias eram como os clássicos (Jane Austen, por exemplo). Então, para quem está começando e não está acostumado com o fluxo de consciência, a técnica que ela usou, que funciona como se o narrador estivesse navegando pela mente dos personagens o tempo todo, é bom pegar os romances com essa estrutura mais tradicional: Noite e Dia, A Viagem, Flush, Orlando... E também ler os contos, os ensaios... Depois é partir para O quarto de Jacob (o primeiro que ela escreveu sem se preocupar com a editora, pois ela e o marido compraram uma, e onde já se pode ver a técnica do fluxo de consciência) Mrs Dalloway, Ao Farol, As Ondas, etc.

(A Odisseia...) Se pudesse resumir a obra de Woolf em uma palavra, qual seria?

Perfeição.

3 comentários:

  1. Ótima entrevista! E o orgulho de ser amigo de uma Woolfiana - ou virginiana? :-) Sempre válido incentivar a leitura de Virginia no Brasil.

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    1. A literatura ganhou novas dimensões com as narrativas de Virginia. E, também, existem dizeres de que a "terra mágica" de "A viagem", primeiro romance da autora, seja o Brasil.

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  2. Adorei a entrevista, muito boa mesmo!!! É sempre um prazer conhecer os amantes de literatura. Me inspirou a não desistir de Mrs Dalloway(rs), e aumentou a minha curiosidade em ler Orlando.
    Shely

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