sexta-feira, 18 de abril de 2014

Resenha - Ninguém escreve ao coronel, Gabriel García Márquez


(Ninguém escreve ao coronel, Gabriel García Márquez: tradução Danúbio Rodrigues. Rio de Janeiro: Record. 96 p.) 


Por Taynara Cruz


Em sua segunda obra publicada, Gabriel García narra a história de um coronel e sua esposa que vivem miseravelmente. O coronel espera uma carta que deveria trazer a sua aposentadoria, mas há quinze anos essa espera é inútil. Todas as sextas-feiras, o único dia que o correio chega à cidade, ele vai ao encontro do carteiro, que sempre repete a frase “Ninguém escreve ao coronel”.

O único filho do casal – Agústin – morreu baleado em uma rinha de galos, e a única coisa que ele deixou para os pais foi o próprio galo. A partir deste episódio, o Coronel e a esposa criam-no com a esperança de engordá-lo para vendê-lo a um bom preço ou para ganhar algum dinheiro nas rinhas.

Em vários momentos do livro, a esposa do coronel tenta convencê-lo a vender o galo, já que eles deixavam de comer para alimentá-lo. Em uma dessas discussões ela diz: “— Já várias vezes pus pedras a ferver para que os vizinhos não saibam que passamos muitos dias sem fazer comida”. Este trecho mostra uma mulher, que mesmo miserável, se importa com o que os vizinhos vão pensar ou dizer, o que tipifica uma sociedade que tem o costume de viver de aparências.

Vale ressaltar que quando Gabo escreveu este livro, ele estava falido. Todos os sentimentos intensificados no texto por causa da pobreza podem ter sido vivenciados por ele. Esta pode ser uma explicação do por que a obra é tão viva e real.

A carta que não chega devido ao descaso do governo para com os cidadãos e a censura dos filmes e jornais – descritas no livro – dão dicas sobre o governo da época, que com certeza não é uma república democrática. O leitor é levado a adquirir uma postura política de repúdio à opressão e à falta de igualdade entre os cidadãos.

“Para os europeus, a América do Sul é um homem de bigodes com um violão e um revólver – brincou o médico, rindo sobre o jornal. Não entendem nossos problemas.” Podemos enxergar aqui uma crítica sobre a cegueira dos colonizadores em relação aos colonizados, que veem tudo de maneira estereotipa e supérflua.

Em 96 páginas, Gabriel García Márquez consegue captar a atenção do leitor, provocar uma visão crítica e contar uma excelente estória. Tudo o que um bom livro precisa fazer!


Gabriel García Márquez faleceu ontem aos 87 anos.  O autor colombiano deixou uma obra inestimável, entre os títulos o grande romance "Cem anos de solidão". Vencedor do Nobel de Literatura, podemos ter certeza que jamais será esquecido entre as estantes literárias. 

Acompanhem a leitura completa da obra do autor pela leitora Taynara Cruz para o desafio "Um autor para 2014".   

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