(Ninguém escreve ao coronel, Gabriel García Márquez: tradução Danúbio Rodrigues. Rio de Janeiro: Record. 96 p.)
Por Taynara Cruz
Em sua segunda obra
publicada, Gabriel García narra a história de um coronel e sua esposa que vivem
miseravelmente. O coronel espera uma carta que deveria trazer a sua
aposentadoria, mas há quinze anos essa espera é inútil. Todas as sextas-feiras,
o único dia que o correio chega à cidade, ele vai ao encontro do carteiro, que
sempre repete a frase “Ninguém escreve ao coronel”.
O único filho do casal – Agústin – morreu
baleado em uma rinha de galos, e a única coisa que ele deixou para os pais foi
o próprio galo. A partir deste episódio, o Coronel e a esposa criam-no com a
esperança de engordá-lo para vendê-lo a um bom preço ou para ganhar algum
dinheiro nas rinhas.
Em
vários momentos do livro, a esposa do coronel tenta convencê-lo a vender o
galo, já que eles deixavam de comer para alimentá-lo. Em uma dessas discussões
ela diz: “— Já várias vezes pus pedras a ferver para que os vizinhos não saibam
que passamos muitos dias sem fazer comida”. Este trecho mostra uma mulher, que
mesmo miserável, se importa com o que os vizinhos vão pensar ou dizer, o que
tipifica uma sociedade que tem o costume de viver de aparências.
Vale
ressaltar que quando Gabo escreveu este livro, ele estava falido. Todos os
sentimentos intensificados no texto por causa da pobreza podem ter sido vivenciados
por ele. Esta pode ser uma explicação do por que a obra é tão viva e real.
A
carta que não chega devido ao descaso do governo para com os cidadãos e a
censura dos filmes e jornais – descritas no livro – dão dicas sobre o governo
da época, que com certeza não é uma república democrática. O leitor é levado a
adquirir uma postura política de repúdio à opressão e à falta de igualdade
entre os cidadãos.
“Para os europeus, a América do Sul é um homem
de bigodes com um violão e um revólver – brincou o médico, rindo sobre o
jornal. Não entendem nossos problemas.” Podemos enxergar aqui uma crítica sobre
a cegueira dos colonizadores em relação aos colonizados, que veem tudo de
maneira estereotipa e supérflua.
Em
96 páginas, Gabriel García Márquez consegue captar a atenção do leitor,
provocar uma visão crítica e contar uma excelente estória. Tudo o que um bom
livro precisa fazer!
Gabriel García Márquez faleceu ontem aos 87 anos. O autor colombiano deixou uma obra inestimável, entre os títulos o grande romance "Cem anos de solidão". Vencedor do Nobel de Literatura, podemos ter certeza que jamais será esquecido entre as estantes literárias.
Acompanhem a leitura completa da obra do autor pela leitora Taynara Cruz para o desafio "Um autor para 2014".